sábado, 1 de novembro de 2014

Idas a Herval e suas observações: Histórias




A "Cia Olhar do Outro" que surge na UFPEL, dentro do projeto Boca de Cena e esta com uma nova montagem: "Quando Envelhecemos". Esse processo de montagem está sendo realizado na cidade de Herval, de onde um dos integrantes, Lumilan Noda, é natural. A ideia do projeto é mesclar as cidade de Rio Grande e Herval de onde os dois atores são naturais e com isso misturar as culturas que cada um tem como forma de processo artístico em cena. Os serros de Herval e as dunas de Rio Grande estarão em cena.

As histórias que o pai do Lumilan fala diz muito sobre o passado e presente. A grande maioria dos comércios tem o nome próprio: Fernanda Pizzaria, Mara Hotel, farmácia do Godinho, todos conhecem seus proprietários e com isso fica mais fácil de indica-los. Os hervalenses falam os seus nomes completos: Lumilan Noda Vieira.

Por lá passaram todas as grandes cicatrizes gauchas: revolução farroupilha, revolução de 23, ditadura, movimento de legalidade (onde o Brizola encabeçou este movimento e foi cassado pela ditadura).
Herval sofreu a ditadura militar de maneira muito ativa, é uma cidade "pelejadora", atuando contra e em prol dos rebeldes.
Herval remói e vive intensamento o passado, sinal de que este foi importante, esta cidade fronteiriça com o Uruguai ainda tem um passado forte.

Algumas frases que compõe passagens da montagem:

"Vó por parte de pai plantava os umbigos no pátio para sempre ter os parentes próximos, minha mãe guarda os dentes em um potinho." (Thiago)

"Ai nem sei se tem mais os umbigos lá, mas sei que a gente tinha que tirar para dar para as mães."

"Sentimento de coletividade, "Herval não vai para frente".

Dentro de nossas passagens e idas a Herval podemos ver que o tradicionalismo é tão forte que as pessoas são conduzidas. Lembramos da lida do campo (gado), sem ter tempo para papear e pensar sobre a sua história quando estão reunidos em grupo.
Herval por muitas vezes reproduz uma história que nem sabe se é verdade, contos se eternizam por anos na mente e nas crenças da população.
“Quem conta um conto aumenta um ponto”...





Algumas impressões e ideais para cena

Aqui estão algumas anotações que fiz e ensejos largados e soltos sobre minhas impressores das coisas que vi e presenciei, este texto pode estar confuso, ele é uma livre interpretação e exposição de tentativas de construir uma narrativa não linear sem compromisso com uma verticalidade.


Hermes Herval, um personagem forte da cidade que desde juiz de cantantes juvenis também narra na rua com microfone convite para festa ou convite para enterros. Este tipo de pessoa está sumindo aos poucos e com isso os atores pesquisam esse tipo de vocalidade.
Cena do menino com mão no bolso, tirar e colocar a mão do bolso, cultura nativista, fala sobre expressão corporal em que o jurado reprime a ação dos guris. 
Aline, ela é o contraponto da gente, ela se urbanizou e voltou para cidade, Porque que voltam a Herval?

A cidade tem muita resistência com o novo de que o novo vai apagar sua história.

Clarecí - eu vou escrever uma peça de teatro para ti, o nome da peça que Clarecí escreveu para Lumilan “Casa de bonecas”.

Mentalidade de própria repressão sobre comportamento em Herval;
O que os outros vão dizer?
"Eu to com frio, mas vou sair de moletom porque o que os outros vão dizer?"
"Honra essas bolas que tens no meio das pernas... do gaúcho. Futebol é pra homem."
O que queremos falar? 

Lumilan - Quando envelhecemos me diz sobre um medo de envelhecer, e como eu acho isso injusto, das coisas terminarem se degradando. É impossível não se falar de morte, sentindo da vida e pensar em o que é a vida, como é difícil não ter certeza de nada.
Tatiana - Uma relação de percepção de tempo, que tempo é esse, de amadurecimento, de definhar, de amadurecer até definhar, e que isso é parte da vida né. A vida no sentido de existir no mundo, fazer parte do mundo e depois de dissipar.  Essa permissão de ser mais velho também, porque as vezes me parece que ser velho não é possível, agora nesse momento, ser jovem é mais importante... ai velho é uma coisa ultrapassada, parece que as pessoas velhas não tem mais importância, e aí então gera essa cobrança, a gente ta sempre se transformando corporalmente pra ser jovem, sendo que faz parte da natureza envelhecer. A gente ta num momento em que ser velho é não ser mais útil a sociedade, parece que acabou a minha contribuição. Essas camadas do nosso quando envelhecemos tem essa coisa da galera em nossa volta, tipo família, amigos, conhecidos... todos estão fazendo parte de uma forma ou outra desse envelhecimento, pois isso é uma coisa que vai acontecer pra todos nós, se a gente não morrer antes é claro.

O que é ser útil?

Por que se precisa ser útil? Necessidade que o ser humano tem em se sentir útil. Em Herval, quando eles deixam as pessoas serem úteis? Condução excessiva por um comportamento.

Cenas

1)    O cara radialista, inspirado no cara do CTG, que narra os acontecimentos. Microfone. Possibilidade de ele servir como um elo condutor. Cara de Alice.
2)    Lumilan - Contar história enquanto toco gaita como recurso. Contar história do meu tio com a gaita. Bombacha, alpargata, boina, lenço e camisa, cores: marrom, cinza, cor crua, couro, azul marinho, vinho.
3)    Lumilan - Contar história do avô, caminhonete, sangue. Sangue é lã da baba antropofágica.

4)    Cena contando história com objetos, fazendo morrinhos no chão com erva mate “aqui está Herval, uma cidade no meio dum monte de morrinhos”.

5)    Tatiana na Roca com o vestido vermelho, com o texto que resgatou no dia que foi visitar sua vó.

6)    Tatiana faz movimentos em desequilíbrio na bacia vestida de homem. Pode ter projeção.

7)    Tatiana, fotografia projetada no não-movimento com os brincos. Brincos na boca.

8)    Canções de ninar. Qual a primeira música que tu ouviu? Da oficina que a tati fez com a vick.

9)    Um Hermes Herval o juiz das cantantes juvenis, que narra na rua com microfone  -Convite para festa ou Convite para enterro... pesquisar uma vocalidade.


10) Cena menino mão no bolso tirar e colocar, cultura nativista, falar em expressão corporal onde jurado reprime a ação dos guris. 

11) Cena do convite para enterro do Lumilan na voz do Hermes, quando meus pais brigavam comigo eu ficava imaginando como seria se eu morresse, as pessoas chorando por sentir a minha falta.

12) Meu nome é Tatiana porque quando eu era pequena minha mãe... contar uma história, aí a pessoa grava o teu nome a partir da história e não simplesmente pelo nome. Meu nome Lumilan tem o seu nome porque seu pai achou em um livro antigo de história indígena esse nome e o colocou no pia. 

13)  Áudio vó de Lumi contando historias sobre as brincadeiras com as boneca, em cena possibilidade; de uma animação de boneca projetada e o ator dançando o áudio e se misturando com a projeção. Relação casa de bonecas que é o texto teatral que a professora clareci deu pro lumi, sendo que ele nunca montou porque nunca soube como montar. Aí ele monta a cena com bonecos, inspirado no que ele lembra e na historia da casa de bonecas que sua avó lhe contou. Pois só agora, com referencia de uma história contada por sua avó é que ele conseguirá montar. No teatro eu aprendi que tudo o que a gente for fazer tem que ter verdade, tem que ser de verdade, por isso não fez sentido pra mim o texto naquela época, e eu acabei esquecendo. Agora, essa história da minha vó é verdade que eu preciso pra montar a cena. O texto da Casa de bonecas: Todos os dias, uma menina passeava com a sua mãe e cruzava em frente a uma loja onde tinha uma boneca. A criança sempre que passava na frente da loja pedia para a mãe para que ganhar aquela boneca de presente, mas a mãe não tinha dinheiro e dizia para a filha que não poderia comprar. A menina então, passou a apertar os olhos toda a vez que passava em frente a loja. Um certo dia, quando menos esperava a menina ganhou da mãe a boneca e, para a sua surpresa, a boneca falava, andava e cantava música.


Cronograma de atividades:
Qual é a cor? Lumi –Pele, madeira, verde grama, verde erva mate, amarelo de bem me quer, vermelho.
Tati – Verde mato, azul céu, vermelho bife, marrom couro, marrom cor de galinha caipira, branco, flitz.
Qual é o cheiro? Lumi –Erva mate, esterco de gado, milho, carne assada, cebola assada, sabonete, perfume de vó, naftalina, pão feito em casa, doce feito por vó, fumaça de caminhão, flitz.
Tati –Cheiro de estábulo, mato pós chuva, pão feito em casa, perfume de vó alfazema, café passado na hora, fogão lenha, sabonete Fhebo, fumaça de fogueira.
Qual é o gosto do espetáculo? Lumi –Ambrosia, doce figo, pêssego com bicho, cebola assada, churrasco com sal grosso, cachaça.
Tati –arroz com leite, doce de abóbora com cravo e canela, café preto, arroz com feijão, pão feito em casa, churrasco, cerveja, vinho.    
Qual a musicalidade do espetáculo?
Tati: ruídos quaisquer, fala das vós, violão, teclado, gaita, Teixeirinha, água, cachoeira, copo, mar, navio, trem.
Lumi: gaita, violão, ruídos de ambiente, pássaros, carros, patas de cavalo, rádio, música A desconhecida, teclado, água, talher que bate na louça, tosse, xixi.
Que objetos?
Tati: roca, vestido vermelho, roupa masculina, bacia, brinco, cadeira, projeção, máquina de fumaça, instrumentos, copo com água, café passado, arroz e feijão cru, mochinho, fotografia, mini tearzinho, caixinha, gaiola, moldura.
Lumi: gaita, violão, vidro de perfume, cadeira, banco, bombacha, camisa, buena, teclado, alpargata, sabugo de milho seco, osso, máscara azul.    
Práticas corporais: aquecimento para levar a um estado, vocalidade-corporea; filmar as ações;
Falar vinte minutos sem parar, momentos de parar para escuta o outro;
Contar histórias sobre como seu nome surgiu;
Lembrar de canções de ninar e colocar 3 ações para essa canção;
Ir para as cenas;  

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